quinta-feira, 17 de abril de 2008

Também colaquei aqui

Copiei algures na net e colei aqui no nosso sítio: o texto do Thiago Fonseca.
Quem não não bebeu do seu "Bazarketing", pelo menos leia este artigo:


tempero local
propaganda e macarrão
por Thiago Fonseca


Um publicitário num País Africano como Moçambique, tem de saber muito sobre massas. Em qualquer mercado, aliás. Mas, num mercado com as características do moçambicano mais ainda. Imagine um lugar no mundo, tribal ainda. Onde existem 60 dialectos locais como língua materna. Onde existem 18 milhões de pessoas onde apenas 5 milhões têm acesso à televisão.

Visto assim, parece uma equação bastante difícil. Mas, como nos anúncios em si, os publicitários arranjam sempre uma maneira de simplificar. Afinal, publicidade é isso. E, por isso, a maior parte da publicidade comunica com as massas em Português. Mas não é qualquer Português. É português com tempero local. Costumo referir-me ao nosso dialecto como Moçambiquês. Muito diferente do Português de Portugal por ser menos cantado, por ter fusões com os dialectos locais em inúmeras expressões da gíria.

O Brasil é um grande exemplo disso. Com o seu sotaque Brasileiro famoso e apreciado em todo o mundo Português.
O Moçambiquês é uma lingua cujo Pai é Branco, a Mãe negra e que possui ainda uma série de Tios da África do Sul Inglesa. Recentemente, o Moçambiquês se vem fundindo com o sotaque Brasileiro, pela influência das novelas da Globo e da Rede Record e Igreja Universal que têm bastante penetração no povo. Não é uma lingua. É um dialecto em permanente mutação e evolução. E por isso, um publicitário tem que estar ligado. Tem de ser mesmo um jornalista da vida. Não um purista linguístico. Nem um elitista.

Quem quer comunicar tem de entender como o texto escrito através das mensagens de celular está a ser transformado. Toda a gramática aliás. E ter percepção de tudo isso é MANINGUE importante. (Maningue, em Moçambiquês significa MUITO. É uma fusão do MANY Sul-Africano com o Changana - dialecto da Regão Sul de Moçambique. E faz parte da gíria popular diária. É uma expressão usada em todas as classes sociais).

Os publicitários que querem construir marcas fortes num mercado assim, tem de entender isso. Porque só assim, conseguem criar peças que comuniquem. E toda a gente sabe que é muito mais fácil entender alguém da própria tribo.
Uma marca que não fala com o consumidor dessa forma fica estranha. Distante.Não cria intimidade. E intimidade é tudo o que é preciso para se comunicar melhor.

Infelizmente, esta sensibilidade não existe na maior parte dos anunciantes e profissionais de Marketing. Principalmente dos que estão ligados a multinacionais e gerem marcas globais. Aqui prevalece a arrogância e o peso do tamanho contra a dimensão quase insignificante do mercado local. Mas, a prática demonstrou que marcas locais que comunicam usando o tempero local tem tido muito mais sucesso. Um exemplo é a operadora local mCel, que é líder no mercado e vem crescendo mais que a sua concorrente Vodafone, um líder mundial em telefone móvel. Um caso único de marketing e resultados. Essa operadora multinacional encontrou apenas dois mercados em África onde teve problemas. O primeiro, o Congo, devido à guerra e a instabilidade política. O segundo, Moçambique. Devido à guerra de marketing. Do marketing com tempero local.

Mas esta sensibilidade existe também além da publicidade. Um bom exemplo é o famoso escritor moçambicano Mia Couto. Que criou toda uma forma de linguagem usando o tempero local deliciosamente nos seus livros.
Num dos seus artigos, ele refere-se à Lingua Portuguesa de vertente moçambicana como sendo uma Língua Mulata.
“O segredo do nosso êxito como espécie humana vem da capacidade de produzir diversidade. Isso que é verdade para os humanos, é válido para as Nações. Ricas são as que reconhecem na sua diversidade uma condição de riqueza e não um problema a resolver.”

Por isso, acredito que esta percepção é válida para Moçambique, mas funciona em qualquer mercado ou regiões. Não se trata de exportar a campanha, mas sim o conceito. Um publicitário, tem de saber cozinhar campanhas com o tempero local. É o ingrediente essencial para quem lida com massas.

Thiago nasceu e cresceu em Moçambique. É director de criação na sua Agência. A GOLO Publicidade. Com um estilo próprio, que aposta na Localização, criou o conceito “Bazarketing” que busca o pensamento local no marketing. O conceito Bazarketing foi lançado no seu livro com o mesmo título publicado em 2004.

inhttp://www.revistameioemidia.com.br/revistamm.qps/Ref/RHSR-6Q7NUZ (16.04.08...17.39h)

3 comentários:

rastaparta disse...

Não creio que o conceito da "localização" da comunicação seja a descoberta do fogo, da roda ou da América!!

Contudo, concordarei se me disserem que se trata de uma RE-descoberta!

Aliás, no meu entender, a "comunição local" acaba por ser um conceito bem global! Senão vejamos:

Em qualquer parte do mundo, os publicitários (e outros comunicadores) tentam encontrar a linguagem mais perceptível e aceite pelo seu público-alvo, sob risco de não serem entendidos ou até mesmo verem o seu trabalho ser rejeitado por aqueles que o deveriam aceitar.

Ao mesmo tempo que a mensagem tem que ser absorvida e percebida na sua totalidade, ela também tem de actuar a nível emocional...

Penso que vamos concordar que não se chega a nenhum desses objectivos se se estiver a comunicar numa linguagem totalmente alienígena!... Ou estamos em desacordo?

Os brasileiros, por exemplo (que, talvez por serem um dos povos mais miscegenizados do mundo, são verdadeiros mestres na arte de comunicar), usam toda uma linguegem e ícones locais para atingirem os seus objectivos de comunicação.

O mesmo acontece com os americanos, tailandeses, malgaches, vietnamitas ou sul-africanos: cada um precisa de conhecer as características e linguagens do local onde está a actuar, de modo a encontrar a melhor forma de comunicar!

Até mesmo as multinacionais que operam em todo o mundo têm algum tipo de cuidado com esses aspectos, adaptando as campanhas a cada um dos locais específicos onde estão implantadas.

...

A propósito deste tema, lembro-me de uma campanha de preservativos que, usando uma linguagem inteiramente urbana, estava também a ser veiculada (em português) nas zonas rurais mais recondidas de Moçambique.
Em princípio, nessas zonas não se sabe ler, ecrever e nem sequer se tem acesso a praias (como retratavam alguns dos outdoors).

...

Obviamente que o que digo aqui não são verdades absolutas!
Trata-se apenas da minha opinião em relação a este tema que também me diz respeito.


A todos, um grande abraço.

rastaparta disse...

ERRATA

no comentário anterior, onde vem escrito:

- "comunição local", deveria ser "comunicação local";

- "miscegenizados", deveria ser "miscegenados";

- "linguegem", deveria ser linguagem;


...


;o}

Unknown disse...

Concordo consigo Rasta.
E obrigado pelo seu comentário!

Na verdade estamos perante formulação discursiva própria de um comunicador com legitimidade neste nosso campo dos media.

Como tu, acredito que não se trata de uma Eureka, trata-se sim da ethos própria do campo. O texto mostra que o autor conhece o discurso e o pragmatismo do campo no qual actua.

Anyway, Tempero local.

MN